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Armadilhas estatísticas

A escola também tem como uma de suas atribuições éticas a formação de uma comunidade leitora, onde as pessoas exerçam a prática de leitura enquanto um direito à cidadania e usufruam dos bens materiais e culturais produzidos em sociedade. As armadilhas dos textos e das estatísticas são aquelas “enjauladas em palavras, símbolos e discursos” que permeiam a nossa sociedade, nos mais diversos campos, o político, o cultural e, também, o educacional.

Os números passam a idéia de cientificidade, de isenção, de neutralidade. Quando discursos, propagandas, manchetes e notícias veiculadas pela mídia, utilizam informações estatísticas (números, tabelas ou gráficos), essas ganham credibilidade e são difíceis de serem contestadas pelo cidadão comum, que chega até a questionar a veracidade dessas informações, mas ele não está instrumentalizado para argüir e contra argumentar.



Isto acontece porque os números atribuem um senso de racionalidade para as decisões complexas, exacerbado pela “crescente sensação de que nada pode ser definido como verdade a não ser que seja sustentado por uma pesquisa estatística”.




As informações vêm “vestidas em complexas tabelas e gráficos que medem, geralmente, com aridez, do décimo ao centésimo de um ponto decimal. O empacotamento das conclusões de uma pesquisa faz com que elas pareçam ainda mais intimidadoras do que realmente são. As únicas pessoas que podem analisar as pesquisas são aquelas que as fazem. Isto praticamente garante uma recepção acrítica da imprensa e do público” (Crossen, 1996, p. 28).


Para Crossen, no final da cadeia da informação se encontram os consumidores e a maioria deles não possui sequer noções básicas de Estatística. Como resultado, esses consumidores não têm nem a confiança, nem as ferramentas necessárias para analisar as informações divulgadas. Apesar de saberem o suficiente para desconfiar de alguns números, em geral, se encontram sem defesas.

Nesse sentido, se as palavras representam o arame da armadilha, talvez os números representem as farpas e, assim, o maior desafio não é “quebrá-las” e sim “desarmá-las”, “desmontá-las”.




A nosso ver, uma experiência de leitura não será completa sem o entendimento da lógica das informações matemáticas e estatísticas que permeiam os discursos, as ciladas e as

armações dos “donos das informações”.




Nesse sentido, é preciso romper esse hiato palavra/número, é preciso letrar e numerar todo cidadão, para que esse possa entremear-se nas armadilhas discursivas perigosas e traiçoeiras, produzir sentidos outros das coisas, dos fatos, dos fenômenos, desarmá-las, enfim.


A propósito, em cada nova eleição, repete-se um mesmo fenômeno: a mídia televisada e impressa usa um linguajar que é assumido ser conhecido pelo cidadão comum. Termos antes restritos à academia, tais como “margem de erro”, “nível de confiança”, “amostragem” entram nos lares brasileiros no horário nobre.


Outdoors, revistas, jornais estampam gráficos, cada vez mais coloridos, mais sofisticados, mais envolventes, mais eficientes, porém, nem sempre fidedignos. Hoje vemos concretizada a profecia de Well, que antes da metade do século XX já alertava que para ser um cidadão pleno, esse deveria estar capacitado para calcular, pensar em termos de média, máximo e mínimo, assim como a ler e escrever (Ruberg e Mason, 1988).


O apelo para o uso da representação gráfica deve-se a eficiência para transmitir informações e por ser visualmente mais prazerosa, existindo evidências de que os formatos gráficos apresentam a informação de uma forma mais amena para as pessoas perceberem e raciocinarem mais facilmente sobre ela (Cazorla, 2002).


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